Não é possível estudar a educação desligada das evoluções sociais. A educação
é produto de uma história de sociedade e ao mesmo tempo um determinante
essencial para o futuro (Ramos, n. d:3).
Reflectir sobre a situação actual
de um país, avaliar a sua situação política, económica e social envolve a
consideração do seu sistema educativo, é ele que dita o futuro organizacional do
país e permite prever o rumo do seu progresso.
Genericamente podemos definir os sistemas educativos como o conjunto de
meios intencionalmente organizados com o objectivo de servir o desenvolvimento
global da sociedade. A sua missão é criar as condições morais, técnicas,
materiais e infraestruturais que permitem a realização permanente da educação,
com a qualidade requerida e para todos os membros da sociedade (Benedito,
2007: 20).
Ao sistema educativo corresponde
a reprodução de uma cultura e de uma força de trabalho nacional com a
finalidade de construir aquilo que podemos chamar de coesão nacional. Os paradigmas
em que assentou a sociedade até finais do século XX estão decadentes, e
conduziram a problemas económicos, sociais e culturais. A educação ganha novos
desafios numa sociedade que proclama pela educabilidade, criatividade e
eticidade (Carneiro, R. 1994), promovendo a mudança e assumindo-se como
adaptável aos contextos reais da actualidade. Perante um cenário de
marginalização da redefinição dos sistemas educativos, Bill Gates afirma que não podemos reformar o ensino público. Nós
precisamos de substituí-lo completamente, porque o sistema foi escolhido para
preparar as pessoas para ontem e não para o amanhã. Na verdade, os sistemas
de ensino apresentam-se como o circuito fechado metaforicamente comparado ao
modelo de fábrica que apresenta como produto final algo que em nada corresponde
aos anseios do aluno, futuro profissional e cidadão. Com os actuais sistemas
educativos assistimos ao genocídio do talento dos nossos jovens, à sentença da
desmotivação escolar dos alunos e futuros profissionais desvocacionados, tudo
porque os interesses económicos e políticos foram a prioridade dos sistemas
educativos, tudo porque a criatividade e o potencial dos alunos foi colocada em
segundo plano em prol de um único objectivo: a formação de um cidadão capaz de
contribuir para um crescimento económico sustentável.
O século XX testemunhou uma
conjectura de economicismo e industrialização e orientou o seu sistema
educativo para o mesmo fim com o objectivo de dar respostas às necessidades
apresentadas por essa conjectura.
Será que o caminho é a continuação da colagem ao modelo fábrica, onde o
professor se assume como patrão, como referem Alvim e Toffler, ou podemos
acreditar que o verdadeiro tesouro ainta está por descobrir (Jacques Delors)?
A necessidade de rejeição deste
modelo de fábrica parece-me evidente, assim como é a necessidade do acreditar
que o verdadeiro tesouro ainda está por descobrir mas que, ainda assim, está ao
nosso alcance a descoberta.
Segundo Ken Robinson não devemos
anestesiar com “Ritalina” os alunos mas fazê-los dizer o que os motiva na
escola e na vida, ancorando as suas aprendizagens e desenvolvendo as suas
competências numa prática reflexiva e dialéctica. Ken Robinson salienta ainda que a educação não deveria ser
instrumentalizada a favor da industrialização mas ser factor de desenvolvimento
pessoal e social. A este respeito Delors et. al (1996) referem que uma nova
concepção ampliada de educação deveria fazer com que todos pudessem descobrir,
reanimar e fortalecer o seu potencial criativo.
Não importam os certificados, os diplomas sem um emprego, ou um emprego de topo sem a motivação para o desempenhar.
O verdadeiro tesouro, a
verdadeira esperança para o futuro, como diz Ken Robinson é adaptar uma nova
concepção de ecologia humana, na qual comecemos a reconstituir a nossa
concepção das riquezas da capacidade humana.
O nosso sistema educacional tem pilhado as nossas mentes da mesma forma que pilhamos a terra, em busca de matérias-primas, e no futuro isso de nada nos servirá. Temos de repensar os princípios fundamentais nos quais baseamos a educação das nossas crianças.
Afinal, a educação é uma responsabilidade de todos nós.
Bibliografia
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Benedito, N. (2007) Centralização de Sistemas Educativos e Autonomia dos Actores Organizacionais – Tese de doutoramento, Universidade do Minho
Carneiro, Roberto (1994). A evolução da economia e do emprego. Novos desafios para os sistemas educativos no dealbar do séc. XXI
Canário,
Rui (2006) - A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares, in:
sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/03-RCanario.pdf (consultado em 22/4/2011)Delors, J. et al. (1996). Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Porto: Edições Asa.