C

CURSO DE MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGICA (2011/2012)

domingo, 29 de abril de 2012

Modelos e tendências evolutivas nos Sistemas Educativos Europeus


Não é possível estudar a educação desligada das evoluções sociais. A educação é produto de uma história de sociedade e ao mesmo tempo um determinante essencial para o futuro (Ramos, n. d:3).

 Reflectir sobre a situação actual de um país, avaliar a sua situação política, económica e social envolve a consideração do seu sistema educativo, é ele que dita o futuro organizacional do país e permite prever o rumo do seu progresso.

 Genericamente podemos definir os sistemas educativos como o conjunto de meios intencionalmente organizados com o objectivo de servir o desenvolvimento global da sociedade. A sua missão é criar as condições morais, técnicas, materiais e infraestruturais que permitem a realização permanente da educação, com a qualidade requerida e para todos os membros da sociedade (Benedito, 2007: 20).
 Ao sistema educativo corresponde a reprodução de uma cultura e de uma força de trabalho nacional com a finalidade de construir aquilo que podemos chamar de coesão nacional. Os paradigmas em que assentou a sociedade até finais do século XX estão decadentes, e conduziram a problemas económicos, sociais e culturais. A educação ganha novos desafios numa sociedade que proclama pela educabilidade, criatividade e eticidade (Carneiro, R. 1994), promovendo a mudança e assumindo-se como adaptável aos contextos reais da actualidade. Perante um cenário de marginalização da redefinição dos sistemas educativos, Bill Gates afirma que não podemos reformar o ensino público. Nós precisamos de substituí-lo completamente, porque o sistema foi escolhido para preparar as pessoas para ontem e não para o amanhã. Na verdade, os sistemas de ensino apresentam-se como o circuito fechado metaforicamente comparado ao modelo de fábrica que apresenta como produto final algo que em nada corresponde aos anseios do aluno, futuro profissional e cidadão. Com os actuais sistemas educativos assistimos ao genocídio do talento dos nossos jovens, à sentença da desmotivação escolar dos alunos e futuros profissionais desvocacionados, tudo porque os interesses económicos e políticos foram a prioridade dos sistemas educativos, tudo porque a criatividade e o potencial dos alunos foi colocada em segundo plano em prol de um único objectivo: a formação de um cidadão capaz de contribuir para um crescimento económico sustentável.

 O século XX testemunhou uma conjectura de economicismo e industrialização e orientou o seu sistema educativo para o mesmo fim com o objectivo de dar respostas às necessidades apresentadas por essa conjectura.


Será que o caminho é a continuação da colagem ao modelo fábrica, onde o professor se assume como patrão, como referem Alvim e Toffler, ou podemos acreditar que o verdadeiro tesouro ainta está por descobrir (Jacques Delors)?


 A necessidade de rejeição deste modelo de fábrica parece-me evidente, assim como é a necessidade do acreditar que o verdadeiro tesouro ainda está por descobrir mas que, ainda assim, está ao nosso alcance a descoberta.
 Segundo Ken Robinson não devemos anestesiar com “Ritalina” os alunos mas fazê-los dizer o que os motiva na escola e na vida, ancorando as suas aprendizagens e desenvolvendo as suas competências numa prática reflexiva e dialéctica. Ken Robinson salienta ainda que a educação não deveria ser instrumentalizada a favor da industrialização mas ser factor de desenvolvimento pessoal e social. A este respeito Delors et. al (1996) referem que uma nova concepção ampliada de educação deveria fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo.

 Não importam os certificados, os diplomas sem um emprego, ou um emprego de topo sem a motivação para o desempenhar.

 O verdadeiro tesouro, a verdadeira esperança para o futuro, como diz Ken Robinson é adaptar uma nova concepção de ecologia humana, na qual comecemos a reconstituir a nossa concepção das riquezas da capacidade humana.




 O nosso sistema educacional tem pilhado as nossas mentes da mesma forma que pilhamos a terra, em busca de matérias-primas, e no futuro isso de nada nos servirá. Temos de repensar os princípios fundamentais nos quais baseamos a educação das nossas crianças.

Afinal, a educação é uma responsabilidade de todos nós.

Bibliografia
______________________________________________
Benedito, N. (2007) Centralização de Sistemas Educativos e Autonomia dos Actores Organizacionais – Tese de doutoramento, Universidade do Minho
Carneiro, Roberto (1994). A evolução da economia e do emprego. Novos desafios para os sistemas educativos no dealbar do séc. XXI
Canário, Rui (2006) - A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares, in: sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/03-RCanario.pdf (consultado em 22/4/2011)Delors, J. et al. (1996). Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Porto: Edições Asa.

domingo, 1 de abril de 2012

Mutações Sociais e Sistemas Educativos

O tempo passa, para trás fica o rasto de um conjunto de elementos (sociais, económicos, políticos, educativos) que marcam uma época e permitem ao homem a construção gradual da sua história e a fixação de marcos da evolução da natureza humana na sociedade.
Já nos dizia Luís de Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e, efetivamente, a circunstância do homem na atual sociedade é o reflexo de um espírito insaciável que busca novos conhecimentos e o alcance de novas metas, sobretudo no campo da ciência e das novas tecnologias. Vivemos a era da informação e do conhecimento, portanto, o desenvolvimento das tecnologias é encarado como uma possibilidade que garante um ambiente cultural e educativo susceptível de diversificar as fontes de saber (Delors, 1996:161). Hoje a informação, o conhecimento está à distância de um click, o longe faz-se perto e o homem perde a noção do limite das suas capacidades. A comunicação aliada ao recurso-internet facilita a disseminação de informações e a socialização do conhecimento. No universo empresarial e organizacional assiste-se a um forte investimento em pesquisa e desenvolvimento por parte dos países mais desenvolvidos que consideram o conhecimento o principal fator estratégico de riqueza e poder, tanto para as organizações quanto para os países. Nessa nova sociedade, a inovação tecnológica ou novo conhecimento, passa a ser um fator importante para a produtividade e para o desenvolvimento económico dos países (DRUCKER, 1993; Lemos, 1999; CHAPARRO, 2001; FUKS, 2003; D’AMARAL, 2003).
A pesquisa científica tornou-se fundamental para o desenvolvimento dos países MATTELART, 2005; GONZÁLES DE GÓMEZ, 20M2), é ela que promove a inovação e dá enfase ao elemento CRIATIVIDADE. Segundo CALLON (2004) a qualidade de uma inovação depende da qualidade das ideias que estão na origem da inovação. O homem e os conhecimentos e competências que adquire é a força motora para mudança e para a evolução da nossa sociedade, portanto, há que investir na constante aquisição de novos conhecimentos, e quem não acompanha este ritmo alucinante da aquisição dos novos conhecimentos acaba por sofrer o flagelo do desemprego e as consequências quase imediatas da exclusão social.

Considerando a sociedade contemporânea palco de profundas mutações, estas, para que sejam vantajosas, obrigam-nos a considerar prioritárias as mutações sentidas no campo da Educação, é este, pois, o principal campo de reflexão e promoção das restantes evoluções sociais. A Educação é produto de uma sociedade e ao mesmo tempo um determinante essencial para o futuro RAMOS. C (2007). A Educação deverá ser, neste cenário de constantes transformações, o ponto de equilíbrio entre o essencial e o desnecessário à existência humana. A Educação é o momento de triagem que garante a intemporalidade de valores ético-morais que tornam a coexistência social e a valorização do capital humano, uma possibilidade e não uma corrida que promove o atropelo dos diferentes interesses individuais.
Os sistemas educativos existem para garantir o direito à Educação. O sistema educativo português, em concreto, com base na lei n.º 46/86, de 10 de outubro, (LBSE) procura assegurar o direito à educação e à cultura para todas as crianças; a escolaridade obrigatória alargada para nove anos; a formação de todos os jovens para a vida ativa; o direito a uma justa e efetiva igualdade de oportunidades; a formação de jovens e adultos que abandonaram o sistema (ensino recorrente); a liberdade de aprender e ensinar e a melhoria educativa de toda a população. Com base nesta Lei, assistimos, assim, à instituição de uma nova organização do sistema educativo português que assenta numa educação pré-escolar; numa educação escolar e extra-escolar que engloba atividades de alfabetização, de educação de base e de iniciação ao aperfeiçoamento profissional. Mas, porque os sistemas educativos devem ser o reflexo das necessidades sociais de uma época, devem sofrer atualizações sempre que seja necessário. Um bom exemplo deste esforço de adaptação do sistema educativo à realidade económica, social e política da atualidade é a Lei n.º 49/2005, de 30 de agosto, que gira em torno da questão do sistema de créditos europeu e do chamado Processo de Bolonha que demonstra, por sua vez, as consequências da globalização e a preocupação do acompanhamento do nível de ensino dos restantes países da Europa e do acesso às mesmas oportunidades de emprego. Numa perspectiva política educativa, este processo pressupõe um conjunto de etapas e de passos a dar pelos sistemas de ensino superior europeus no sentido de construir um espaço europeu de ensino superior globalmente harmonizado, com o objetivo de garantir o aumento da competitividade do sistema europeu de ensino superior e promover a mobilidade e empregabilidade dos diplomados do ensino superior no espaço europeu.
Os sistemas educativos são, portanto, respostas imediatas às consequências inesperadas das mutações sociais, são a preparação para o acolhimento dos desafios do futuro e o espelho da nossa sociedade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Delors, J. (1996) Educação Um Tesouro a Descobrir. Relatorio para a UNESCO . Lisboa: Asa
Clímaco, M.C (2005). Avaliação em Sistemas de educação- Lisboa: Universidade Aberta´
Gaspar, M.I. (2003) Perspetivas em Educação nº 1. Novos Rumos e Pedagogia em Ensino à distância
Legislação